Quem se exercita há tempos sabe a que me refiro: incômodos, transtornos, às vezes dores. Sabe, igualmente, a resposta do médico: descanse alguns dias, diminua o peso, tome anti-inflamatórios. E sabe, também, que se seguir a orientação, os problemas retornarão tão logo seja retomado o treinamento "sério".

O porquê de isso ser assim estará nos próximos capítulos. O "isso" a que me refiro é o maldito estado de não se estar bem para treinar, e nem mal o bastante para ser considerado doente.

Rumo á Solução: Com quem não podemos contar (em regra).
Resolver o problema depende de se entender que os médicos (a menos que sejam especializados na área esportiva, e lidem com atletas profissionais de alto nível) e outros profissionais da área de saúde não irão, em regra, solucioná-lo. Os motivos são vários, mas vale destacar um, por ser talvez o menos evidente deles (até para os terapeutas).

Profissionais da área de saúde estão acostumados a tratar pessoas "realmente" doentes e a testemunhar dramas "reais": morte, perda de membros, invalidez, redução permanente de capacidades.

Você e eu (inconscientemente, é verdade) somos percebidos como vaidosos desocupados que querem correr mais rápido, erguer mais peso, etc.

Um Exemplo Real

Culpar o médico, ou o terapeuta, é incidir no erro de que você foi vítima: a inabilidade de pôr-se no lugar do outro. Quero dizer com isso que se passassemos um mês em uma clínica, hospital ou consultório, lidando com pessoas realmente enfermas, talvez não conseguissemos nos interessar pelos nossos "dramas" (menos de 100kg no supino é realmente dramático).

Vamos agora comparar dois modos modos de se enfocar o mesmo problema. Recorro a um caso concreto (que protagonizei).

Problema: Dor Em Um dos Ombros.

Paciente: Doutor, meu ombro dói.
Médico Ortopedista: Pratica Esportes?
Paciente: Sim. (Detalha o que faz).
Médico Ortopedista: Tire a Camisa. (Apalpa a região por menos de um minuto.)
- Você Está Com Tendinite.
Paciente: É mesmo?
M.O: Sim. Estou 'sentindo' aqui (diz apalpando a região).
Paciente: E agora?
M.O: Vou te dar uns anti-inflamatórios (abre a gaveta, pega amostras grátis). Não trabalhe a região por duas semanas.
Paciente: ok. E qual a causa disso?
M.O: Está forçando muito a musculatura. Precisa pegar mais leve. O corpo não suporta tanto.
Paciente: ok (murmurando)

Depois de duas semanas, é claro, a dor voltou.

O Outro lado da Moeda

Se a causa da (alegada, devo acrescentar) tendinite fosse o excesso de peso, qual a razão de apenas um ombro haver sido afetado?

Essa é a pergunta que não interessa ao médico que lida com "doentes", mas que seria de imediato "respondida" (mediante testes) por alguém acostumado a lidar com os problemas causados pelo treinamento.

A resolução do problema passaria por testar e corrigir:

"1. Scapular stability
2. Thoracic spine range of motion
3. Glenohumeral (ball-and-socket joint) range of motion
4. Overall soft tissue quality (especially posterior capsule)
5. Rotator cuff strength
6. Cervical spine function
7. Mobility of the opposite hip
8. Mobility of the opposite ankle.
9. Core stability/force transfer
10. Breathing pattern"

(O post que citado acima é de 2008. Tive de lidar com isso em 2000.)